RASÍLIA - O ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo
Tribunal Federal (STF), autorizou que "fatos potencialmente criminosos"
atribuídos na delação do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado a
três senadores e quatro deputados federais sejam juntados a um inquérito
que já tramita no STF, a pedido da Procuradoria-Geral da República
(PGR), e também determinou que as citações a cinco ex-parlamentares
sejam encaminhadas ao juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba.
Representantes do Rio Grande do Norte
A decisão abre a possibilidade de a PGR investigar os
senadores Valdir Raupp (PMDB-TO), Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) e
Agripino Maia (DEM-RN) e os deputados federais Walter Alves (PMDB-RN),
Felipe Maia (DEM-RN), Jandira Feghali (PC do B-RJ) e Luiz Sergio
(PT-RJ), no âmbito de um procedimento de investigação já em andamento
contra o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e o deputado federal Aníbal
Gomes (PMDB-CE), em que se apuram supostos crimes praticados em relação
com a Transpetro e a Petrobras.
Sérgio Machado
relatou que estes congressistas receberam propina, via doação oficial,
com recursos oriundos de vantagens indevidas pagas por empresas
contratadas pela Transpetro.
José Agripino Maia ( Senador), Garibalde Alves ( Senador), Felipe Maia (Dep. Federal ), Walter Alves ( Dep. Federal )
"Todos os fatos potencialmente criminosos a eles relacionados e narrados
pelo colaborador encontram-se no contexto dos desvios operados por
Sérgio Machado no âmbito da Transpetro. Tais fatos, em uma melhor
avaliação, podem ser investigados no âmbito do inquérito 4215, em
tramitação junto a esta egrégia Corte. Por isso, basta, por ora, a
juntada dos termos de depoimento referente a tais fatos nos autos do
feito em curso", disse o procurador-geral.
Teriam sido repassados R$ 850 mil a Valdir Raupp, R$ 450 mil a Garibaldi
Alves Filho, R$ 300 mil a Agripino Maia, R$ 250 mil a Walter Alves, R$
250 mil a Felipe Maia, R$ 100 mil a Jandira Feghali, e R$ 400 mil a Luiz
Sergio, por diferentes construtoras, sobretudo Queiroz Galvão e Camargo
Correia. Como um todo, o período corresponde as eleições de 2010 até as
eleições de 2014 - embora cada caso tenha um período específico.
Curitiba. Fachin também atendeu ao pedido da PGR para
que sejam encaminhadas a Sérgio Moro as citações a Henrique Eduardo
Alves, ex-deputado pelo PMDB-RN e ex-ministro do governo Temer; Cândido
Vaccarezza, ex-deputado federal pelo PT-SP e atual integrante do PTB;
Jorge Bittar, ex-deputado federal pelo PT-RJ; Ideli Salvatti,
ex-senadora e ex-ministra da Secretaria de Relações Institucionais; e
Edson Santos, ex-deputado federal e ex-ministro da Secretaria Especial
da Igualdade Racial do governo Lula.
Caberá a Sérgio Moro analisar as informações do delator
Sérgio Machado de que eles teriam receberam propina via doação oficial
de campanha. O envio à primeira instância se deve ao fato de que, ao
perderem o mandato no Congresso, eles já não detêm prerrogativa de foro
no STF.
Divulgada em junho de 2016, a delação de Sérgio Machado
trouxe a informação de que, nos 11 anos dele à frente da Transpetro, ao
menos R$ 100 milhões em propinas foram repassados para a cúpula do PMDB
no Senado. Os fatos relacionados a outros senadores do partido estão em
análise em outras investigações, não mencionadas nos trechos
específicos.
Defesas. Entre os parlamentares citados, a defesa
do senador Valdir Raupp nega que ele tenha cometido crimes. "Trata-se
de má-fé de delatores que buscam benefícios para si imputando falsidades
a terceiros. Esperamos que o Ministério Público Federal e o Poder
Judiciário reconheça a verdade sobre os fatos", diz o advogado Daniel
Gerber.
Em nota, a defesa da deputada Jandira Feghali diz que
ela "não tem nada a temer, que não se pode confundir doação oficial ao
partido com propina e que o único destino para esse assunto é o
arquivamento".
Quando a delação de Sérgio Machado foi divulgada, em
2016, o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN) afirmou, em nota, que o
próprio delator afirmou que as doações eleitorais "foram oficiais e sem
nenhuma troca de favor, benesse ou vantagem de qualquer natureza".
Também após o surgimento das citações, o senador Agripino Maia afirmara
que as doações que buscou como presidente do DEM "foram obtidas sem
intermediação de terceiros, mediante solicitações feitas diretamente aos
dirigentes das empresas doadoras".
Dissera também que não teria nenhuma
contrapartida a oferecer a qualquer empresa que se dispusesse a fazer
doação em troca de favores de governo. O senador afirmou, ainda, que "as
doações recebidas - todas de origem lícita - foram objeto de prestação
de contas, devidamente aprovadas pela Justiça Eleitoral".
Os deputados Luiz Sérgio e Felipe Maia negaram ter
recebido valores ilícitos.
Walter Alves (PMDB-RN) afirmou que o próprio
delator ressalta que as doações eleitorais foram oficiais, "sem nenhuma
troca de favor, benesse ou vantagem de qualquer natureza".
Entre os que poderão passar a ser investigados em Curitiba, Candido Vaccarezza disse ao Broadcast Político que
está processando Sérgio Machado pelas citações. "Como você sabe ele diz
que enviou o dinheiro para o DIretório Estadual do PT e que este
repassou para minha conta de campanha em 2010. Como você sabe também o
repasse para minha conta de campanha do DR foi zero", disse.
O Broadcast não conseguiu contato com
Henrique Eduardo Alves. Mas, quando a delação foi divulgada, ele havia
dito que repudiava "a irresponsabilidade e leviandade das declarações
desse senhor". O ex-deputado e ex-ministro Edson Santos, do PT, afirmara
que é "absurda" a acusação de Machado de que ele recebeu dinheiro de
propina.
Também em 2016, o ex-deputado federal e ex-presidente da
Telebras Jorge Bittar informou que ele nunca teve contato ou reunião
com Sérgio Machado para pedir recursos para campanha eleitoral, e que
todas as doações recebidas "foram feitas de forma legal e devidamente
registradas junto à Justiça Eleitoral".
E a ex-ministra Ideli Salvatti afirmou que as doações à
sua campanha eleitoral ao governo de Santa Catarina em 2010 foram
declaradas e aprovadas pelos órgãos competentes, e que sua conduta
pública é regida pelos princípios da ética, moral e legalidade.
Imunidade. No
mesmo pedido da PGR, havia uma fundamentação para não investigar o
atual presidente Michel Temer, por citações de Sérgio Machado, por se
referir a "fato estranho ao mandato". O despacho do ministro Fachin não
toca nesse ponto, uma vez que não houve demanda a ele relacionada.
O delator revelou uma suposta operação de captação de
recursos ilícitos, envolvendo Temer e o senador Valdir Raupp (PMDB-RR),
para abastecer, em 2012, a campanha do então candidato Gabriel Chalita
(PDT), que na época integrava o PMDB, para Prefeitura de São Paulo.
Tanto Michel Temer como Chalita negam irregularidades.
Fonte : " O ESTADÃO " Breno Pires e Rafael
Moraes Moura,
O Estado de S.Paulo
06 Abril 2017
06 Abril 2017
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