Por Anderson Barbosa, G1 RN – Na hora de uma situação dessa, ninguém, ninguém toma uma providência. Ninguém se junta comigo ou faz alguma coisa. Eu fico muito triste. Eu tô desabafando com vocês. Saí muito assustada de onde eu vim agora. Acabei de chegar em casa. Eu tava na delegacia. E o que eles me falaram como experiência deles não gostei. Não foi bom pra mim. Não está sendo bom pra mim. Entenderam? Mas, é isso aí. É o sistema, galera. É o sistema”.
O desabafo (ouça AQUI o áudio completo) foi feito por uma mulher que há sete anos é agente penitenciária no Rio Grande do Norte. Na manhã do sábado (16), a caminho do presídio onde trabalha, algo atingiu uma das janelas do carro dela. Para muitos, foi apenas uma pedra. Porém, para policiais civis que viram o estrago, o carro foi alvo de um tiro de espingarda. O boletim de ocorrência, segundo a agente, será registrado ainda nesta segunda-feira (18).
Com o impacto, um buraco foi aberto entre as janelas laterais do
veículo, coisa de um palmo apenas da direção da cabeça da motorista.
“Quase fui morta. E isso só o sistema não quer ver”, disse a agente ao G1.
O sistema a que a agente se refere é o sistema prisional potiguar.
Atualmente, o Rio Grande do Norte possui 864 agentes penitenciários.
Outros 571 devem ser convocados até o final do ano como forma de
diminuir o deficit na área, que é de aproximadamente 1.000
profissionais. Contudo, segundo o sindicato da categoria, o Estado
precisa se preparar não apenas para dar assistência aos que estão para
ser incorporados, mas principalmente aos que já estão em atividade.
130 agentes afastados
“A profissão de agente penitenciário é a segunda mais perigosa do
mundo e a mais estressante. No nosso estado, somente este ano, 130
agentes já se afastaram de suas funções por licença médica. Sem falar
nos que precisam tomar remédio para dormir ou mesmo os que tomam remédio
para conseguir ir trabalhar. E quando chegam ao local de trabalho,
enfrentam um ambiente totalmente insalubre, hostil, sem qualquer
assistência em meio a muitos presos doentes e em meio a tantos que estão
se matando”, ressaltou Vilma Batista, diretora do Sindicato dos Agentes
Penitenciários do RN.
“Hoje, não há nenhum setor dentro do sistema que ofereça amparo aos
agentes. A falta de atenção à saúde física e mental do servidor é total.
Vivemos sem valorização profissional. E isso fica nítido a cada
postagem feita pelo atual governo frente às conquistas das demais
categorias. Desta forma, só nos resta nós mesmos, pois é um por todos e
todos por um”, acrescentou Vilma.
O G1 pediu uma resposta à Secretaria de
Justiça e da Cidadania (SEJUC), órgão responsável pelo sistema prisional
potiguar, mas até a publicação desta matéria ainda não havia se
manifestado.
O desabafo
Pessoal, é como um desabafo. Eu faço o meu trabalho e faço o que
posso fazer de melhor. Sempre foi assim. Não é a primeira vez que
acontece coisas comigo no sistema. Uma vez eu peguei uma presa que fugiu
da João Chaves e… peguei ela na rua. Ninguém viu isso. Acho que ninguém
soube. Saí da João Chaves, do Feminino, por ameaças. A única arma que
eu consegui na minha vida, que foi um 38 todo acabo, foi com o major
Castelo Branco, que ele me arrumou assim, na hora. E com Dinorá, também.
Que, inclusive, depois que houve uma mudança de secretaria, ela me
pediu de volta prometendo me devolver uma outra, mas não aconteceu. E,
eu não tenho condições de comprar uma arma.
E depois do ocorrido, de sábado, que eu fui trabalhar, fiquei de
plantão, na minha, muito calada, muitos chegaram pra mim e disseram: ah,
isso foi uma pedra que jogaram… isso e aquilo. Dois agentes, eu conto
na mão, que se preocuparam comigo e que foram atrás, que… ei, vamos lá,
num sei o que… mas, já tinha dado tanto tempo, né, … e… assim…
Aí o diretor da unidade chega… ah, talvez foi uma pedrada daqui, e
tal, não falou mais nada, ninguém falou mais nada. Certo, porque num
momento desse, tudo bem que ninguém sabe às vez nem o que falar, mas…
uma preocupação, alguma coisa, num sei… ninguém chegou pra dizer assim:
vamos agora na delegacia, vamos registrar isso aqui, vamos tomar
providências, vamos fazer, nada… eu que saí do plantão cansada, hoje, e
passei na delegacia e fiz o registro. E os agentes todos foram me
atender, e viram, que, aquilo ali não foi uma pedra. E muitos dizendo
que é uma pedra.
O subsecretário chegou e eu contei a situação. Foi no meu carro,
olhou, também não disse mais nada. Ele não falou nada. Nenhuma instrução
de nada. Então é isso aí, eu fico muito triste, muito triste. Porque eu
sei a profissional que eu sou, o que eu faço. E na hora de uma situação
dessa, ninguém, ninguém toma uma providência, ninguém se junta comigo
ou faz alguma coisa… sabe? Eu fico muito triste.
Eu tô desabafando com vocês. Fico muito triste. Saí muito
assustada de onde eu vim agora. Acabei de chegar em casa, que eu tava na
delegacia. Acabei de chegar em casa. E o que eles me falaram como
experiência deles não gostei. Não foi bom pra mim. Não está sendo bom
pra mim. Entenderam? Mas, é isso aí. É o sistema, galera. É o sistema.
Fonte : G1 RN
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