A Frente Parlamentar em Defesa da Criança e do Adolescente da Câmara
Municipal de Natal se reuniu na tarde desta quinta-feira (25) para
discutir a situação do sistema prisional em Natal. E, entre os
encaminhamentos, ficou definida a criação de um grupo de trabalho que
irá montar um relatório com as pautas de trabalho para que o próximo
governador ou governadora tenha uma atenção às políticas públicas dos
jovens.
A vereadora Júlia Arruda, coordenadora da Frente, considerou a
reunião produtiva. Ela lembrou que os problemas encontrados hoje são
praticamente os mesmos de três anos atrás, quando o Estatuto da Criança e
do Adolescente (ECA) completou 25 anos. Ela adiantou que a Frente
Parlamentar vai montar o grupo de trabalho que vai lutar também por
recursos para execução das políticas públicas dentro do Plano Plurianual
(PPA), que norteia os orçamentos dos próximos quatro anos.
“Mais uma vez discutimos as medidas socioeducativa. Entre os
encaminhamentos de hoje, esperamos criar um grupo de trabalho e um
documento para o próximo governador ou governadora para encarar a pauta
da criança e do adolescente como prioridade. Próximo ano será importante
para a criação do PPA e precisamos integrar o Município, que é
responsável pela medidas protetivas abertas, e o Estado, que é
responsável pelas medidas protetivas fechadas, para tratarmos desse
assunto. O que queremos é mudar o destino desses adolescentes para que
eles não virem estatísticas de homicídios e para que eles não pratiquem
infrações”, disse.
A instituição responsável pelo abrigo dos jovens infratores em
restrição e privação de liberdade é a Fundação de Atendimento
Socioeducativo (Fundase), que se encontra sob intervenção judicial desde
2014. Atualmente, ela atende 208 jovens em 10 unidades. A diretora
Tomázia Araújo reclama da falta de integração dos poderes para execução
das políticas públicas que garantam o atendimento às crianças e
adolescentes.
“Temos feito essa proteção sozinhos. Infelizmente. Se é pra ser feita
a execução da medida socioeducativa de proteção integral e, de fato, de
atendimento, nós precisamos da educação, da cultura e da saúde também.
Precisamos dessas secretarias integradas para cuidar desses
adolescentes. São adolescentes que chegam até nós completamente
desamparados. Por falta dessas secretarias temos limites para ajudá-los a
não serem reincidentes na pratica do ato infracional”, revelou.
A presidente do Conselho Regional de Psicologia (CRP), Daniela
Rodrigues, explicou que é possível fazer com que as crianças e
adolescentes infratores não sejam reincidentes, mas ela adiantou que são
necessários investimentos no acompanhamento pedagógico. Ela também
criticou a forma como os que praticam atos infracionais são encaminhados
para sistemas de internação.
“A lei diz que o adolescente só vai para uma unidade de internação,
quando o ato é de alta gravidade. A lógica do encarceramento hoje é mais
forte do que a política de proteção integral e não deveria ser assim.
As medidas em meio aberto como liberdade assistida e prestação de
serviços são muito mais adequadas, porque elas mantém os jovens ligados à
hábitos sociais, familiares e educacionais muito mais saudáveis, mas,
obviamente, precisam de investimentos, projetos, desenvolvimento
pedagógico e recursos, e não apenas investimentos no sistema punitivo de
cerceamento de direitos. É possível ressocializar sim. Já fui executora
e vi essa realidade”, enfatizou.
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