A revelação de que, em 2010, a Odebrecht
botou R$ 23 milhões
(sem nota fiscal) no caixa da campanha presidencial de José Serra levou
a Lava Jato para a porta do PSDB. Há pelo menos dois meses sabia-se que
isso aconteceria, assim como se sabe que a OAS repetirá a dose. Nos
dois casos, as denúncias só ficarão de pé se vierem acompanhadas de
demonstrativos das movimentações financeiras. Os R$ 23 milhões não eram
um trocado. Equivaliam a dez vezes o que a empreiteira declarou
oficialmente e a 20% do custo total da campanha estimado pela tesouraria
do PSDB semanas antes do pleito.
A colaboração dos empreiteiros poderá trazer de volta ao cenário um
personagem que assombrou o tucanato durante a campanha de 2010. É Paulo
Vieira de Souza, um ex-diretor da Dersa, a estatal paulista de rodovias.
Engenheiro respeitado, era um destacado negociador de contratos com
empreiteiras. Ele também era conhecido como “Paulo Preto” e foi
criticamente mencionado por Dilma Rousseff durante um debate da
campanha. No serpentário tucano, acusavam-no de ter sumido com R$ 4
milhões do partido. Em três ocasiões, a bancada do PSDB evitou que ele
depusesse a uma comissão da Assembleia sobre os custos de obras
rodoviárias. Vieira de Souza chegou a se queixar dos tucanos “ingratos” e
“incompetentes”, pois não se deixa “um líder ferido na estrada a troco
de nada”. A chaga cicatrizou, mas será reaberta se algum executivo de
empreiteira mencionar o seu nome na colaboração.
O PSDB governa São Paulo desde 1995, e Geraldo Alckmin é o cidadão
que esteve por mais tempo na cadeira de Prudente de Moraes, Campos
Salles e Rodrigues Alves. Essa longevidade, mesmo derivando de eleições
competitivas, dá ao tucanato uma aura de República Velha, com o
inevitável cansaço dos materiais.
Desde 2008, quando a Siemens alemã demitiu o presidente de sua filial
brasileira “por grave contravenção das diretrizes” da empresa, as
administrações tucanas são perseguidas por denúncias de irregularidades
na contratação de serviços e equipamentos em obras de transporte
público. A Siemens colaborou com o Ministério Público quando a expressão
“delação premiada” ainda era pouco conhecida e fez isso a partir de uma
reviravolta na política de sua matriz. Nada a ver com as implicâncias
locais, inclusive porque a denúncia veio de uma reportagem do “The Wall
Street Journal”. Procuradores suíços remeteram ao Brasil documentos que
comprovavam o pagamento de propinas e um dos fornecedores de
equipamentos, a francesa Alstom, tornou-se sinônimo da própria encrenca.
Ela compartilhava os consórcios de obras de linhas do Metrô de São
Paulo com as empreiteiras Odebrecht, OAS, Camargo Corrêa, Andrade
Gutierrez e Queiroz Galvão. Segundo o Ministério Público da Suíça, entre
1998 e 2001, a Alstom aspergiu US$ 34 milhões na burocracia paulista
sob a forma de contratos fictícios de consultoria. À primeira vista,
esses malfeitos seriam semelhantes, em ponto menor, às
petrorroubalheiras petistas. O que diferencia as duas investigações é o
resultado. Em menos dois anos, a Operação Lava Jato já condenou 76 réus a
mais de 680 anos de prisão. A investigação paulista completou oito
anos, sem maiores resultados.
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