sábado, 24 de junho de 2017

LEMBRANÇAS DE LINDOMAR DO LIMA COM Dr: EPITÁCIO DE ANDRADE FILHO

Lindomar Izídio e Epitácio Andrade em área atacada
No último dia 04 de janeiro, o engenheiro agrônomo Lindomar Izídio de Lima e o médico sanitarista Epitácio de Andrade Filho começaram a fazer um estudo exploratório em regiões do litoral sul potiguar para diagnosticar e propor intervenções no problema caracterizado pela infestação de cajueiros pela praga da mosca branca e suas possíveis repercussões nas atividades e saúde humanas.
 
A praga se caracteriza pela infestação parasitária do inseto conhecido como “mosca branca do cajueiro” que coloniza os cajuais e deposita suas fezes açucaradas na folhagem da planta, favorecendo o desenvolvimento de um fungo fitopatogênico denominado de “fumagina”, que impede a fotossíntese e atraem outros insetos como formigas.
 

Mosca Branca do Cajueiro
A evolução fitopatológica da praga acarreta diminuição acentuada da produtividade da planta, motivada pelo desfolhamento causado pelo ataque da mosca e pelo desenvolvimento da “fumagina”.
 
Folha atacada por “Fumagina”


Segundo estimativas mais otimistas 30% dos cajueiros, planta nativa dos trópicos brasileiros, encontram-se sob séria ameaça de sobrevivência devido ao ataque da mosca branca, ocorrendo, sobretudo em áreas desmatadas, onde se elimina o alimento natural da praga, que passa a buscá-lo, principalmente, nos cajuais.
 

Cajueiro parcialmente atacado em área desmatada
Cajueiro totalmente atacado

O ataque é caracterizado, principalmente, pela deposição das fezes adocicadas do inseto na parte dorsal das folhas da planta.
 
Ataque na parte dorsal da folha do cajueiro

A contaminação da parte ventral das folhas também se dá pela deposição de restos de insetos e outros subprodutos resultantes da evolução fitopatogênica da praga, que vão caindo das folhas mais superiores atacadas.
 
Ataque na parte ventral da folha do cajueiro

Os pesquisadores identificaram num município do litoral sul potiguar uma área que teve uma infestação maciça, onde 95% das plantas foram atacadas pela mosca branca. O ataque da praga não se restringiu aos cajueiros, alcançou bananeiras, plantas ornamentais e até plantas tóxicas, caracterizando uma situação de desequilíbrio ambiental, que tem acarretado danos sociais e econômicos em várias atividades humanas, inclusive com repercussões na promissora atividade turística.      
 
                 
A seguir serão apresentadas imagens deste ataque maciço da mosca branca numa área peri-urbana deste município litorâneo.
 

Ataque na parte ventral da folha da bananeira

Ataque na parte dorsal da folha da bananeira
 Plantas ornamentais como a dracena vermelha, o hibisco e a alamanda carne, assim como plantas tóxicas, como o “comigo ninguém pode”, também foram alvo do ataque devastador da mosca branca.
 
Alamanda carne sendo atacada


Flor do hibisco ainda livre do ataque

Dracena vinho atacada

Flor do hibisco atacada

Nesta área de infestação maciça, os pesquisadores constataram que nem plantas tóxicas, como é o caso de “comigo ninguém pode” foram poupadas do ataque da mosca branca.
 
“Comigo ninguém pode” atacada

Durante dez dias de pesquisa de campo, o psiquiatra sanitarista Epitácio Andrade constatou algumas repercussões patológicas na saúde humana que podem guardar relação de causa e efeito com a exposição à praga. Inicialmente, foram identificados casos caracterizados pela presença de corpos estranhos nos globos oculares de recém-nascidos e bebês expostos a “fuligem” que fica a cair das árvores permanentemente; observou-se uma tendência ao surgimento de dermatites de contato em usuários de piscinas contaminadas com os subprodutos da praga, assim como o aumento dos riscos de otites e de processos alérgicos; como toda praga, por uma determinação filogenética, é potencialmente ansiogênica, foram observadas situações de elevação do nível de ansiedade de turistas, agravadas pelo receio de estarem sendo expostos a agroquímicos potencialmente tóxicos.
                               
Noutra incursão exploratória, o pesquisador social Epitácio Andrade constatou no alto da Serra de Santana, no sertão central do Rio Grande do Norte, o grande receio da população local sobre a utilização de agrotóxicos no combate a praga da mosca branca do cajueiro, que o sábio poeta-agricultor Zé Limão, radicado naquelas glebas distante 30 km da área urbana do município de Santana do Matos, registrou em versos de cordel: 

“A Mosca do Cajueiro”, de Zé Limão

A mosca do cajueiro
Precisa ter solução
Para se recuperar
Novamente a produção
Mais isso só é possível
Através de avião
Pois com bomba manual
Acho muito perigoso
Para lutar com veneno
Eu sou um tanto nervoso
Pode nem matar a mosca
E dar-se um causo doloroso
Eu acho que essa praga
Merece ser dizimada
Para a nossa produção
Voltar ser recuperada
Do contrário o cajueiro
Não vai valer é mais nada
Acho que devia haver
Uma breve solução
Para não acontecer
Como o plantio do algodão
Que por causa do bicudo
Acabou-se a produção
A população reclama
Mais não tem jeito pra dar
Se acabar o cajueiro
A riqueza do lugar
A situação do pobre
A tendência é piorar
Vamos pedir ao bom Deus
Pra que haja solução
Para os nossos cajueiros
Voltar a dar a produção
Do contrário o nosso povo
Irá passar precisão

(Santana do Matos, 2009).
                            
Em consultoria gentilmente prestada por Khadidja Dantas Rocha, doutoranda em agronomia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, comprovou-se que a utilização de agrotóxicos, do tipo inseticida, está cada vez mais em desuso no controle da praga da mosca branca. A especialista afirmou que a aplicação do extrato aquoso das folhas da planta “Nim” diretamente nos cajueiros atacados tem sido observada uma eficácia no controle da praga superior a observada com a aplicação de óleos vegetais.
                            
O desuso de agrotóxicos tem sido uma tendência mundial que está sendo impulsionada pelo desenvolvimento da consciência ecológica de parcelas cada vez mais significativas da população planetária, passando a ser mais exigente com o controle de qualidade da produção agrícola e da oferta de serviços que tem o meio ambiente como principal atrativo, além de influenciar a produção científica para a busca de soluções ecologicamente equilibradas, com é o caso da utilização dos agentes de controle ambiental das pragas, do tipo organo-naturais.
 
Doutoranda Khadidja Dantas Rocha

O Nim, popularmente conhecida como “amargosa”, é uma planta originária do subcontinente indiano, introduzida no Brasil em 1982, com excelente adaptabilidade por suas características de resistência a seca, e está sendo utilizada como uma espécie de inseticida natural orgânico, sem evidências de danos ambientais, no controle de várias pragas, dentre elas a mosca branca do cajueiro.
Nim Indiano
Ao final da primeira etapa da incursão exploratória a áreas infestadas pela mosca branca no litoral sul do Rio Grande do Norte, os pesquisadores ainda tiveram a preocupação estética de expressar o “sofrimento do caju”, por meio de uma encomenda de uma tela gigante ao artista plástico Demétrius Montenegro, quando estiveram reunidos em um restaurante da Praia da Pipa.



Praia da Pipa/RN/Brasil

Texto Epitácio de Andrade Filho, médico psiquiatra e pesquisador social

Nenhum comentário:

Postar um comentário